Capítulo 1 - Prólogo
Eu não sei como descrever o que sentia nesse exato momento,
poderia dizer medo, angústia, raiva, mas nenhum desses era o suficiente.
As lágrimas rolavam por o meu rosto de criança livremente,
soluços eram tentados ser abafados por minhas mãos pequenas, e o medo em meus
olhos era visível.
A chuva era forte lá fora, a caverna em que eu estava só
fazia com que eu sentisse mais frio. Sabia que não poderia ficar aqui dentro
pra sempre, mas o instinto de sobrevivência era maior, fazendo com que minhas
pernas não me obedecessem, fazendo com que eu continuasse parada no mesmo
lugar.
As imagens do predador voltaram com força em minha mente.
Aqueles olhos vermelhos, a boca entre aberta por onde escorria o sangue das
vitimas que ele tinha acabado de fazer. Nos seus braços encontrava-se o corpo
sem vida de minha mãe, e aos seus pés, o de meu pai. A noite escura fazia com
que seu rosto ficasse mais sombrio. Em seus olhos não se encontrava culpa, só
prazer e satisfação.
Quando ele jogou o corpo da minha mãe no chão, foi que eu
saí do transe. Sabia que com as minhas pernas curtas de criança não conseguiria
ir muito longe, mas tinha que fazer alguma coisa, foi aí que o instinto de
sobrevivência veio de novo com tudo, e eu saí correndo por entre a floresta
escura e molhada.
A cada passo que eu dava mais lágrimas escorriam pelo meu
rosto. Tentava a todo custo não pensar na imagem que tinha presenciado há um
minuto.
Caí várias vezes, fazendo com que um rastro de sangue
ficasse por onde eu passasse. Minhas pernas pequenas não aguentavam mais, meu
peito subia e descia num ritmo acelerado, o suor que escorria de minha pele se
misturava com a chuva que molhava minha roupa.
Quando ouvi um barulho lá fora que fui recuperar a
consciência. Meu coração voltou a bater mais rápido do que eu imaginei ser
possível. Minha audição pareceu se intensificar, me ajudando a ouvir o que quer
que fosse, foi nessa hora que ele apareceu.
O escuro fazia com que eu não conseguisse ver o seu rosto, e
sinceramente eu não queria. Se saísse viva daqui (o que era pouco provável) o
que eu menos queria era lembrar-me de seu rosto doentio e cruel. As únicas
coisas que eu enxergava eram seus olhos (que inacreditavelmente pareciam mais
vermelhos ainda) e sua boca, que continuava manchada de sangue.
Deu passos pequenos em minha direção, como se quisesse me
testar, descobrir se eu gritaria ou não.
Quando suas mãos frias e geladas tocaram em minha pele macia
e delicada foi impossível não gritar, mesmo sabendo que de nada adiantaria.
A última coisa de que me lembro foi seu aperto ficando mais
forte e eu sendo tirada do chão, depois tudo que restou foi à escuridão.
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